quarta-feira, 10 de junho de 2009

CONTRA A REDUÇÃO DA MAIORIDADE

Semana passada as palestra do curso PLP – Promotoras Legais Populares – compareceu a psicopedagoga Cecília Salles que trabalham com Jovens em São Roque e São Paulo e com o Educador Social Ângelo.
Muito se falou sobre os jovens e das políticas públicas que podem ir de encontro ao que pensam, fazem e podem nossos jovens.

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Muito oportuno diante do debate nacional que está acontecendo e que infelizmente a grande mídia evita. Não fique de fora. A Agência Senado está promovendo, em sua página na Internet, uma enquete sobre a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 26/2002, que reduz a maioridade penal (atualmente de 18 anos).
Recebemos a contribuição da Dra. Maristela Monteiro Pereira: “Reduzir a maioridade penal é dar um tiro não no pé, mas na cabeça de muitas pessoas, pois a fábrica de criminosos profissionais que é o sistema carcerário iria aumentar e muito com essa medida. Imaginar que a medida coibiria a criminalidade entre adolescentes é ilusão. O que poderia levar a isso, de fato, seria a implantação da educação em tempo integral, a ampliação do investimento nas atividades culturais, esportivas e de lazer. Se você ainda está em dúvida, analise esses dados:
- menos de 7% do total de crimes na sociedade são cometidos por adolescentes com menos de 18 anos;
- menos de 1% dos homicídios são cometidos por adolescentes com menos de 18 anos
- do total de crimes violentos, menos de 3% são cometidos por adolescentes
- dos crimes cometidos por adolescentes, mais de 70% são contra o patrimônio e não contra pessoas
- de cada 10 mil adolescentes, apenas 3 tem envolvimento com crimes e está detido por isso.

Se ainda tem dúvida, leia a opinião de Miguel Reale Jr. (ABAIXO), um dos maiores juristas do Brasil e um dos criadores do Código Penal para quem a redução da maioridade penal é uma resposta simplória ao problema da criminalidade dos menores. O caminho seria um esforço coletivo para integrar os jovens carentes à sociedade
Abaixo trecho da entrevista que o jurista deu com exclusividade à Agência Carta Maior.

(CM) - Mas a redução da maioridade penal é uma solução que sempre é apresentada quando há envolvimento de um menor num crime.
(MR) - Isso é lamentável. Não se olham outras vertentes, outras questões, não se olha para as causas, como se houvesse possibilidade de, num passe de mágica, transformar a criminalidade praticada pelos adolescentes em não-criminalidade em razão da responsabilidade penal reduzida. E os três maiores que participaram do crime não são um exemplo de que repressão penal não leva a uma redução? Eles não deixaram de agir em razão de uma ameaça abstrata. E se você for ver o elenco de pessoas que se encontram presas e que praticam crimes violentos verá que, na sua maioria, elas têm entre 18 e 25 anos.

(CM) - Qual seria a alternativa correta?
(MG) - O problema da criminalidade dos adolescentes não tem sido encarado de um ponto de vista preventivo, de medidas que sejam tomadas no conjunto da sociedade. A administração da Justiça, desde a polícia até o sistema prisional e as fundações de menores, não tem condições de enfrentar este problema. É necessária a junção de todos os esforços para que o jovem se sinta acolhido na sociedade. Um dado que a Escola Paulista de Medicina acaba de levantar é que grande parte daqueles que praticam violência doméstica sofreram violência doméstica na sua infância. É essa a resposta que se aprende a dar. É um problema de ordem social e cultural. Reduzir a maioridade não vai adiantar nada. Você só vai pegar os menores entre 16 e 18 anos, que hoje estão indo para a FEBEM, e colocar no sistema criminal, que já é falido por si só.

(CM) - O sistema criminal teria condições de suportar esta mudança?
(MR) - De jeito nenhum. Nem o Judiciário. E não há por quê. Quais são os dados estatísticos de menores praticando crimes violentos? São bem baixos. O número de menores é pequeno perto do de adultos que praticam crimes delituosos. Isso em cidades como São Paulo, onde há quatro milhões de menores carentes. O que reduz a violência, e este é um dado absolutamente incontrastável, é integrar o jovem em uma comunidade organizada. O Jardim Ângela é um exemplo. Este foi considerado o bairro mais violento do mundo e já passou a ser o 16o. Bastaram alguns programas sociais. Fico espantado que queiram resolver as coisas por esta via rápida, que surge à mente daqueles que se revoltam, que estão movidos por um desejo de represália, sem se olhar o problema na sua maior dimensão. Os menores estão já sendo reprimidos através da internação em casas de contenção, que são verdadeiros infernos, como a FEBEM, onde o número de monitores envolvidos em violência, em exploração, no próprio assassinato de menores dentro das instituições é alto. A maioridade penal vai intimidar os jovens mais do que isso? Não intimida! O jovem que está indo para a FEBEM sabe que está indo para um inferno. Está mais do que provado que repressão não é o caminho. Será que isso não passa na cabeça das pessoas com o mínimo de bom-senso ou elas só querem uma resposta no sentido da vingança? Eu vejo que a realidade do direito penal é o castigo, a sociedade vê isso como retribuição. Mas querer que a retribuição seja idêntica à dos maiores sem perceber que é necessário fundamentalmente um tratamento diverso, que não recolha todos à mesma vala comum, é uma resposta muito simplória. Além disso, há um motivo muito básico pelo qual eu acho que não poderia haver uma redução da maioridade. Isso contemplaria imediatamente a um setor grande da sociedade e a alguns políticos e tudo o mais, que é mais importante, seria deixado de lado.
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2 comentários:

  1. a quem interessa isolar ou excluir jovens que acabam por necessitar mais dos serviços públicos? Quem quer estado minino? Quem tem medo da maior concorrência que as políticas de cotas impõe?
    Para a elite é mais comodo investir nesse tipo de política, do que resolver o problema da educação pública. E é bom lembrar que o sr. José Serra tem sido o grande expoente na arte de destruir a educação em sp.

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  2. O problema dessa temática está na falta de interesse da elite em discutir políticas sociais e educacionais. Eles preferem ir direto ao isolamento daqueles que os ameaçam. Pior ainda é que da forma como o Sr. José Serra tem conduzido a educação no estado teremos mais ameaças à elite, pois a educação de qualidade é a melhor saída para acabarmos com esse problema.

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