A lei de incentivo
à Cultura, denominada Lei Rouanet, está presente em muitos produtos culturais,
principalmente em filmes brasileiros, que em sua maioria, são produzidos por meio
deste incentivo fiscal. Recentemente, a medida de incentivo à Moda/Cultura
foi discutida, já que as duas estão interligadas entre si e fazem parte da
Economia Criativa. Quero compartilhar com você esse texto da Senadora Marta
Suplicy.
Moda é cultura
As pessoas se expressam de
diferentes maneiras e a moda faz parte dessa forma de se mostrar.
Não é difícil, olhando a vestimenta das
mulheres do século 19, perceber seu papel na sociedade e distinguir as
desigualdades nas classes sociais. A moda traduz muito da vida e cultura da
história de um povo, assim como a gastronomia. Basta pensar na nossa culinária,
na judaica e, por que não, nos Estados Unidos e seus hambúrgueres.
A cadeia produtiva da
moda é gigantesca: dos botões aos zíperes. Das costureiras às fábricas têxteis.
Das pequenas confecções aos ateliês dos famosos. Das vendedoras aos estilistas.
São milhares de pessoas dinamizando a economia e criando empregos.
A moda também gera
símbolos. Marcas que, de tão importantes, se tornam até sinônimo da cultura do
país. Atraem turistas, agregam valor a outros produtos e se, combinadas com
gastronomia, música, monumentos, potencializam uma imagem positiva e contribuem
para o "soft power" do país.
No Brasil começamos a
entender recentemente esse poder da moda. As "fashion weeks" se
consolidaram graças ao esforço de alguns e toda a cadeia produtiva se beneficia.
No Ministério da
Cultura o maior instrumento de fomento é a Lei Rouanet. Mas a moda não
conseguia captar. O que faltava? Apresentar projetos de acordo com as previsões
da lei. O MinC estabeleceu quatro critérios para aceitar projetos: promover internacionalização
(impacto na imagem Brasil), ter simbologia brasileira (mostrar raízes e
tradição), formar novos profissionais (estilistas ou na cadeia produtiva), ou
ainda preservar acervos.
O primeiro a
apresentar projeto com base nesses critérios foi Pedro Lourenço, jovem
estilista já com reputação para participar da Semana da Moda em Paris.
Como ministra, chamei
para mim a decisão, pela simbologia de quebrar um paradigma na afirmação que
moda é cultura; por entender a importância da repercussão de um brasileiro
estar nesse desfile (cobertura midiática), abertura e interesse pela nossa
indústria da moda e para a construção de uma imagem de um Brasil criativo,
moderno e atraente. Queremos um Brasil que transcenda o país do Carnaval, sol e
biquíni.
Pedro Lourenço é
beneficiado, assim como Herchcovitch ou Ronaldo Fraga? Certamente, pela
exposição que terão. Entretanto, sem esses criadores, e outros que agora virão
(espero as estilistas que trabalham com rendas nordestinas), nós não teremos
condição de projetar nossas milhares de confecções charmosas que, com o tempo,
darão alegria a tantas mulheres como quando hoje compram algo
"francês".
Essa marca/país
nasceu depois de enorme esforço da França na promoção de seus criadores
(subsídios e exposições nos principais museus) e da genialidade de alguns
deles: Dior, Chanel, Lacroix, Saint Laurent, para citar alguns. Exposições com
esses ícones "vendem" o país.
A porta está aberta.
Muitos passarão, sem tanto estardalhaço, para ampliar a marca Brasil, aumentar
investimentos, exportar nossos produtos, gerar emprego e renda para
brasileiros.
Torço para que os nossos, que agora podem sair fortalecidos pelo apoio no incentivo fiscal propiciado pela Rouanet, consigam patrocinadores, concretizem seus sonhos, mas, mais que isso, se consagrem símbolos de um Brasil pujante, criativo e iluminado.
Torço para que os nossos, que agora podem sair fortalecidos pelo apoio no incentivo fiscal propiciado pela Rouanet, consigam patrocinadores, concretizem seus sonhos, mas, mais que isso, se consagrem símbolos de um Brasil pujante, criativo e iluminado.
Todos seremos
beneficiados.
MARTA SUPLICY é ministra da Cultura. Senadora licenciada (2011-2018), foi
prefeita de São Paulo (2001-2004) e ministra do Turismo (2007-2008)
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