terça-feira, 16 de setembro de 2014

Tragédia da Vila Socó: ex-ministro Ueki presta depoimento

  
    A Comissão da Verdade em parceria com a OAB de Cubatão está dando continuidade à investigação do incêndio da Vila Socó. No dia 30 de julho, Shigeki Ueki, depôs sobre o caso. Ueki foi ministro de Minas e Energia no governo Ernesto Geisel de 1974 a 1979 e presidente da Petrobrás durante o período do Figueiredo de 1979 a 1984, quando aconteceu o incêndio que vitimou centenas de pessoas em Cubatão.

   O ex-presidente da Petrobrás Shigeaki Ueki, falou sobre as circunstâncias, omissões e responsabilidades no incêndio da Vila Socó, em Cubatão. De acordo com números extra-oficiais divulgados na época, cerca de 508 pessoas morreram no incêndio, na sua maioria imigrantes nordestinos pobres e negros.
    A tragédia aconteceu na madrugada de 25 de fevereiro de 1984 e resultou no vazamento de 700 mil litros de gasolina das tubulações da empresa, em função da ausência de manutenção e de um erro de operação.
  O nome de Ueki deixou de ser relacionado ao caso após a “Operação Abafa” desencadeada pelo governo - o presidente à época era o general João Batista Figueiredo, o último do período militar. Como parte dessa “Operação”, o número oficial de mortos foi reduzido a 93 – um terço dos quais crianças –, o direito das vítimas à indenização foi ignorado e os responsáveis pelo incêndio jamais foram punidos. Segundo peritos que auxiliaram o trabalho de investigação do Ministério Público, à época, famílias inteiras desapareceram sob as chamas.

Tragédia

   A tragédia da Vila Socó foi o incêndio com maior número de vítimas no Brasil. Além das vítimas fatais, dezenas de pessoas ficaram feridas e foram internadas nos Hospitais da Baixada Santista. Antes disso, apenas o Gran Circo Norte-Americano de Niterói teve um número aproximado – 500 mortos e cerca de 180 mutilados.
  O caso foi reaberto por iniciativa da Comissão da Verdade da OAB/Cubatão e da Comissão da Verdade Rubens Paiva da Assembleia Legislativa de S. Paulo. Segundo o presidente da Comissão, deputado Adriano Diogo, o depoimento de Ueki será fundamental para esclarecer pontos que "permanecem obscuros".
   Um desses pontos é porque a Petrobrás presidida por ele, não aceitou indenizar crianças de até 12 anos, sob o argumento de que não eram “força produtiva”. Um outro dado é porque razão se construiu um número oficial de 93 mortos – quando os próprios peritos que trabalharam no caso em apoio ao Ministério Público, falam de 508 mortos – número considerado conservador, e que ganhou as manchetes dos principais jornais do mundo, entre os quais, o New York Times.
   Ueki também foi questionado sobre a real dimensão do vazamento de gasolina, já que o perito Jorge Moreira, que trabalhou auxiliando o Ministério Público nas investigações afirmou em depoimento a Comissão da Verdade da OAB/Cubatão, que o vazamento foi de cerca de 2 milhões de litros de gasolina e não 700 mil - a versão oficial. Os membros da Comissão suspeitam que a subestimação do vazamento seja parte da manobra para reduzir o tamanho da tragédia, manobra que teria sido montada pelas autoridades preocupadas com o impacto do número de vítimas para a imagem da estatal dentro e fora do país.

Depoimentos

   Além de Ueki foram ouvidos na audiência, os depoimentos dos jornalistas Carlos Dorneles, Carlos Nascimento, Alberto Gaspar e Isabela Assunção, que cobriram a tragédia para a Rede Globo de Televisão. Também foram convidados o promotor do caso, Marcos Ribeiro de Freitas, e as diretoras das Escolas João Ramalho e Estado do Mato Grosso, parentes de sobreviventes.




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