sábado, 16 de julho de 2011

O poeta e o revolucionário

O poeta e o revolucionário


Por: Moacyr Pinto

Militante debate formas de mobilização diante da atual situação política e econômica


Na sexta, 8 de julho, os metalúrgicos do ABC se uniram aos da Capital e pararam a via Anchieta. Como o trânsito andou bem, a grande imprensa logo esqueceu o assunto! O movimento saiu em defesa do emprego e contra a excessiva importação de peças, que algumas montadoras de autos vêm fazendo. Ao saber das reivindicações, pensei em fazer uma provocação à CUT.

Minha ideia faz parte de um debate a respeito da relação entre prática política e mentalidades nesse mundo globalizado; mundo este que vem se mostrando, talvez por modismo, crente demais no poder da internet como instrumento de transformação. O assunto esquentou ainda mais com a questão dos jovens indignados, que vêm se manifestando em diversas partes do mundo. Confesso que não simpatizei com a noção sociológica de indignados, já que indignação é apenas um estado de espírito, que passa assim que o opressor tira o bode da sala; precisamos mais!

Tenho defendido dois pontos de vista:

1. Que o debate sobre o Brasil da atualidade não fique centrado apenas na conjuntura econômica mais imediata; menos ainda no moralismo generalizante – contra os políticos e a política – das tais classes médias, sem rosto, tradicionalmente medrosas, pessimistas e muitas vezes manipuladas pelas forças conservadoras. A internet tem sido o seu grande meio de expressão;

2. Que alguns movimentos e segmentos sociais, em particular o movimento sindical com maior peso e tradição histórica (por isso me volto para a CUT), cumpram o papel central de propor pautas e levantar bandeiras nacionais em oposição às levantadas pelos conservadores.

Também tenho me voltado para a esquerda católica, que praticamente desapareceu do mapa, depois que a direita do catolicismo mundial entrou aqui fazendo ameaças e denunciando que os progressistas faziam política, ao invés de religião. Por que não inverter o discurso na atualidade e recuperar terreno, agora que ela, direita, escancarou que o seu reino também é deste mundo?

O Brasil vem crescendo cada vez mais em importância política nesse confuso mundo atual. Por que não darmos mais um passo – essencial para a nossa própria libertação – agora no quesito indignação, colocando nas mãos da nossa juventude bandeiras capazes de apaixonar e fazer despertar os sonhos da maioria, dos quais penso que fazem parte as bandeiras levantadas no protesto de sexta-feira?

Com os trabalhadores nas ruas, aí sim, essas e outras bandeiras, claramente contrárias às dos especuladores, privatistas e entreguistas, entre outros inimigos históricos do nosso povo, poderiam ganhar força e legitimidade também nas redes sociais. Os jovens trabalhadores saberão ajudar nisso!

Ninguém melhor que o movimento sindical para puxá-las, com a legitimidade histórica que tem e o compromisso que precisa ter. Ninguém melhor do que o Movimento Sindical do ABC e a CUT para sair na frente e provar que é possível!


Como disseram o poeta e também o velho revolucionário: Quem samba fica, quem não samba vai embora!

* Moacyr Pinto é sociólogo e escritor, autor dos livros Conto de Vista – Histórias no Brasil que elegeu Lula; e Hiena - Minha revolta não se vende.

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